Literatura apesar de tudo: duas visões sobre o romance melancólico de W.G. Sebald

Este livro apresenta uma  tese que procura demonstrar como a literatura do escritor alemão W.G. Sebald, ao tocar nos rastros da matéria ferida dos sobreviventes pós-Shoah, como também de tantas outras catástrofes da era capitalista burguesa, do colonialismo à dominação da natureza e degradação ambiental, emite um gesto de levante no sentido de que a literatura desponta como afirmação da vida, da memória redentora dos que foram engolidos pela barbárie, e no fomento de novos modos de adentrar o pretérito e retomar a cadeia de lutas daqueles que, escovando a história a contrapelo, intuíram um futuro justo e livre do inimigo histórico que insiste em perdurar. É a própria possibilidade/gesto de escrever e produzir literatura na, e apesar da, década de 1990, em um horizonte de desencantamento com os sonhos e as utopias que tanto marcaram o fracassado século XX, que o melancólico Sebald potencializa ao apresentar ao mundo seus quatro romances inclassificáveis. Trata-se de uma melancolia criativa, insurgente e comprometida com as questões do seu tempo, que é intuída em reflexão cruzada especialmente com Georges Didi-Huberman e Enzo Traverso, e que é demonstrada aqui em uma “leitura anatômica” de dois romances: Os anéis de Saturno (1995) e Austerlitz (2001). No ano em que se completam duas décadas desde que, abruptamente, saiu de cena aquele que é provavelmente o mais importante escritor alemão da segunda metade do século XX, o lançamento desse trabalho é um importante marco em sua recepção crítica brasileira.  

Autor: Sérgio Aguiar